As
divisões e oposições existentes naquele tempo vinham das relações de produção,
da raça e da religião. Tudo misturado. Todas elas contradizem a vontade do Pai,
pois por meio delas muita gente era marginalizada, colocada de lado, sem
esperança de poder obter uma vida melhor. E muitas vezes, tudo isto era
sacralizado e legitimado em nome de Deus, através de uma interpretação errada
da Bíblia.
Jesus
denuncia todas estas divisões e as combate através de atitudes bem concretas: 1. A divisão entre o próximo e
não-próximo – já não depende mais da raça nem de observância exteriores, mas
depende da disposição de cada um se aproximar do outro, quem quer que ele seja
(Lc 10,29-37); 2. A
divisão entre pagão e judeu – Jesus estava disposto a entrar na casa do
centurião (Lc 7,6), e atende ao pedido da Cananéia (Mt 15,28); 3. A divisão entre obras
santas e profanas (oração, Mt 6,5-8, jejum, Mt 6,16-18 e esmola, Mt 6,1-4) são
redimensionadas; 4. A
divisão entre puro e impuro – Jesus questionou toda a legislação da pureza
legal (Mt 23,23; Mc 7,13-23), e chegou a ridicularizá-la (Mt 23,24); 5. A divisão entre tempo
sagrado e profano – colocou o sábado a serviço do homem (Mt 12,1-12; Mc 2,27;
Jo 7,23-24); 6. A
divisão entre lugar sagrado e profano – disse que Deus pode ser adorado em
qualquer lugar, contanto que seja em espírito e verdade (Jo 4,21-24; Mc
11,15-17; 13,2; Jo 2,19) e não só no templo; 7. A divisão entre pobres e
exploradores – denuncia os exploradores que se dizem benfeitores do povo (Lc
20,46-47; Lc 22,25) e derruba as mesas dos cambistas que são chamados ladrões
(Mc 11,15-17; Mt 21,12-17).
Agindo
assim, Jesus sacode e relativiza as pilastras do sistema judaico: observância
do sábado, o templo, as obras santas como jejum, oração e esmola, a lei da
pureza legal (Mt 23,25-28), a prática da justiça feita pelos fariseus (Mt
5,20), a própria lei de Moisés (Mt 5,17.21.27.31.33.38). Jesus denuncia a
tentativa de chegar a Deus através do próprio esforço e do próprio mérito: “Somos servos inúteis!” (Lc 17,10). Deste
modo, ele liberta o povo da tirania da lei, da tirania dos intérpretes da lei,
da tirania do que, em nome do seu saber maior, impunham fardos pesados ao povo
dito ignorante, (Mt 23,4).
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